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Na ponta do lápis

  • Writer: Priscila Mallmann
    Priscila Mallmann
  • Jul 22, 2020
  • 5 min read

Updated: Aug 2, 2020

Um dia passando pelo Museu do Brooklyn em NY li a seguinte frase:

“A palavra falada perece, mas a palavra escrita permanece.”

Parei por alguns instantes em frente aquela sentença tão pequena de comprimento, e ao mesmo tempo imensa de significado. Minha fascinação pelas palavras nasceu no berço, se desenvolveu durante os anos de alfabetização e descobertas da minha própria experiência errante.

Senti que a carreira de modelo era uma onda de oportunidades que eu precisava surfar. Muito corajosa e determinada sabia também dos riscos mesmo que abstratos de sair de casa tão cedo. O pacote dos sonhos vinha incumbido do arquétipo de viajar e viver como uma moradora local em diversas cidades ao redor do globo, conquistar minha independência, conhecer pessoas diferentes em um único dia, falar idiomas distintos, descobrir novas culturas, cheiros, gostos e prazeres.


No entanto essa onda pode ser calma e cristalina, ademais pesada e escura, muito jovem me encontrei em mundo adulto cheio de brigas de ego, jogos de interesses, dinheiro, glamour, o distúrbio alimentar -desenvolvi bulimia e anorexia aos 19 anos, felizmente consegui a cura- e após um tempo na arena da vida quando achei que tivesse visto de tudo (e mal assoprava 24 velinhas) a vida me manda mais uma grande lição, uma relação tóxica, destrutiva e abusiva. Mas depois de um tempo você entende que para se encontrar você precisa se perder, e a melhor maneira para isso acontecer é entrar na lagoa sem botas, sentir a lama e ser forte para sair dela muitas vezes sozinha.


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Lisboa 2011




Na carreira como modelo os dias sempre foram e são uma inerente inconstância, o que se intensificou depois que vim morar em NY, onde me encontrei trabalhando em diversas posições no ramo profissional além do mercado da moda, e também uma imigrante na cidade coração do mundo. Ao final de cada dia quando o Sol dorme sempre sou eu sozinha, longe de casa, lápis e uma página em branco para prosear.


Me descobri uma alma nômade com uma mente pensante em constante exaustão, sempre atenta aos pormenores. A vida me ensinou a ser minimalista, na bagagem da vida carrego pouco peso de coisas materiais, meu excesso está na caneta e no papel onde faço caber o mundo.


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Santiago do Chile 2014



Sempre que me perguntam o que eu faço, respondo que trabalho como modelo profissional e sou escritora, porém a segunda parte sempre sai com uma voz meio tímida. No meu website ou no meu Ipad consigo mostrar diversos trabalhos fotográficos através de um vasto portfólio, toda via se me questionam sobre as escritas minha resposta sempre foi e é um silêncio desconfortante.

Minha autocrítica sempre me fez questionar qual seria o impacto de meus escritos na vida de uma outra pessoa. Além do mais, a internet nos dias de hoje virou terra de ninguém, todo mundo é um pouco de tudo, seja o que for a cartela de opções é vasta e muitas vezes pouco criteriosa. Porém depois de passado alguns anos com o incentivo de amigos, e também desconhecidos tomei coragem para abrir minha caixinha de pandora.


Através deste arquivo (blog) divido com você muito do que já vivi, um olhar sobre o que esta porvir, e quem sabe criar através da relação escritor e leitor uma identificação sincera porém sem expectativas, aprendi que a vida sem a mesma é algo libertador.

Acredito que nunca havida publicado meus textos antes porque escrever é um propósito muito além de uma profissão, me causa certo receio, como um simples ser humano tenho minhas projeções, e a possibilidade de falha me repreendeu por muito tempo.



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Barcelona 2018


“Escrever é o mais prazeroso dos trabalhos e o mais trabalhoso dos prazeres”. Washington Olivetto.

Escrever nem sempre é prazeroso porém gozar de colocar o ponto final em um texto é

sublime. Escrever é organizar a cabeça quando tudo ao redor parece caótico, é dar sentido a pensamentos, colocar para fora o que não foi verbalizado, ou o que pode vir a ser. Escrever é dar estrutura para emoção, quando a falta de arranjo causa ansiedade. Escrever é dialogar comigo mesmo, é uma terapia intensiva, prescrição médica de antidepressivo.


Escrever é um ato espontâneo todos os dias escrevo algo, uma idéia, um lembrete, sou viciada em post its tenho centenas deles espalhados pela minha casa com citações, frases de livros, estudos, entre outras coisas. Ressalvo que escrever é ler, e muito!

Não leio só o que gosto, leio de tudo um pouco pois sou curiosa, me encontro em narrativas, poemas, crônicas, livros de história, biografias, notícias, livros de auto-ajuda, roteiros e as vezes dou uma chance para não-ficção, mesmo que remota.


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New York 2019



Escrever é entrar em um estado de transe, onde posso abraçar o passado, pintar o presente, idealizar de forma lúdica o futuro. A escrita é solitária, mas me causa uma sensação física de segurança.


Para ter uma boa idéia basta estar inspirada, se não o texto empaca. A inspiração vem em uma situação cotidiana, uma tarde no MET (Arte é uma de minhas grandes paixões), assistindo ópera no Lincoln Center, ou um diálogo com um amigo, inclusive durante os meses de pandemia entendi o quão essencial é a troca social para edificarmos nossa criatividade. Me inspiro em um banho de cachoeira, ou no mar, as vezes olhando para o céu, ás vezes olhando para o nada. Tomando o chimarrão da manhã e lendo política (outra grande paixão), fazendo um trabalho voluntário, e quem sabe assistindo filmes clássicos, ou algum documentário histórico.


Encontro as palavras de forma mais simples no meio do caos

Um dia meu instrutor de natação me pegou olhando para raya alheia, e me chamou a atenção: Comparação aniquila a evolução, fique focada na sua raya!


No caso da escrita, comparação mata a criatividade. Não me comparar com meu semelhante é um trabalho diário, mas que depois de anos errando consegui dominar e não me deixar levar pelo tempo do outro. Eu demoro para escrever, sou perfeccionista ao extremo (acho que é o ascendente em Virgem) então eu vou no meu tempo.


Perfeccionismo é irmão da procrastinação, tome cuidado com estes dois. Tenho uma relação contraditória com a escrita. Odeio reler os meus textos. Em geral, é uma experiência dolorosa voltar para eles. Sempre acho defeitos. Ao mesmo tempo, existem alguns textos de minha autoria que releio quando quero me inspirar, no sentido de mostrar para mim mesma que sou capaz de escrever coisas bonitas.


Escrever é similar ao esporte, se você não treina e usa do seu talento ele enferruja. Eu escrevo para ser lida, e seu eu puder de alguma forma inspirar você que está lendo este texto nesse momento, eu possa me dizer que valeu a pena.

Escrever é o ato de entregar-se precisa ser humano seja qual for o intuito do texto. Sempre escrevi sobre coisas da vida, detalhes do cotidiano, aqueles que passam despercebidos ao olhos da grande maioria das pessoas, coisas que todo mundo diz que sabe, mas que em um minuto de leitura são capazes de mudar percepções e paradigmas, quando você atribui a devida atenção em forma de letra em um papel em branco.

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Exposição Burle Marx, New York 2019


Eu escrevo por que preciso escrever, é vital igual o bater do coração. Sempre escrevi para manter minha sanidade em dia, e durante o processo fiz da solidão e o silêncio meus maiores aliados. Na ponta do meu lápis eu converso com o divino, com as pessoas, e como disse comigo mesma, espero agora poder compartilhar essas conversas com você.

PM

 
 
 

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©2020 by Priscila Mallmann

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