Lua de boa noite
- Priscila Mallmann

- Aug 11, 2020
- 2 min read
Há dois meses me mudei para o Brooklin, para uma daquelas casas de verdade que podemos chamar de lar, com o pé direito alto e uma arquitetura centenária, cheiro de bolo assando e feijão no fogão, de presente ainda ganhei uma família maravilhosa com direito a crianças, cachorro e gato, muito parecida com a casa a qual cresci no Brasil, no interior de Santa Catarina.
Hoje eu completo mais um ano de vida, mais um ano ofertado para continuar a viver o meu processo.
Depois de um dia intenso de trabalho, fui celebrar em um dos meus lugares favoritos de NY, um bar chamado Fat Cat localizado no West Village. Estava rodeada de amigos queridos, sinuca, vinho barato - aquele que dá dor de cabeça no dia seguinte - e um jazz fenomenal. Na volta para casa pude sentir a neve que escorregava minhas pernas cansadas.
Embarquei no trem com destino ao Brooklin, já era tarde mas o relógio ainda confortava minha vaidade, não havia passado da meia noite, ou seja, continuava a ser meu dia, o dia do meu nascimento.
Desci na parada de trem próxima a minha casa, a temperatura estava baixa, mas eu estava confortável com algumas taças de vinho e muito calor humano recebido no encontro com amigos. No caminho para casa me deleitei por olhar as árvores ao longo da rua, sempre presto atenção e sinto o barulho do silêncio, faço isso religiosamente todas as noites quando volto do trabalho.
Como estamos no inverno a Lua nem sempre está presente, já fazia algumas semanas que eu não a via, mesmo procurando-a sempre com os olhos apontados para o céu, mas sem sucesso do encontro.
Cheguei em casa, me organizei na rotina pré-cama: banho quente, incenso, vela, comida para Bethânia minha peixinha, bossa nova, conversas com Iemanjá através de papel e caneta.
Já estava pronta para fechar os olhos quando dei a última olhada pela janela,
e não ela que ela estava lá? Me sentei de joelhos, abri a janela para sentir o ar frio que vinha da rua, e avistei Dona Lua, impetuosa, absoluta, metade cheia, metade escondida. Olhei para Mãe Janaína, e sabia que aquela era a cereja do meu bolo de aniversário. Sorri!
Logo depois chorei um choro misto de nostalgia e luto, tinha saudades de casa e naquele momento me despedia de uma Priscila que viverá um dos anos mais desafiadores de sua vida na cidade coração do mundo

Foi um momento de benção, um um alento de esperança. Os grandes milagres da vida acontecem diariamente nos detalhes mais sinceros, possíveis e inesperados.
Fique alerta, está acontecendo agora. Axé!
Escrito em
15 de Janeiro de 2019 – 11:59pm
New York
PM



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