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Banzo de cidreira

  • Writer: Priscila Mallmann
    Priscila Mallmann
  • Jul 22, 2020
  • 2 min read

Updated: Aug 2, 2020

Eu tomei uma decisão na minha vida: comprei um vaporizador!

Entre casar ou comprar uma bicicleta, achei o vaporizador mais seguro.


Era sexta-feira, havia tido uma longa semana de trabalho, no caminho de volta para casa enfrentei uma tempestade tropical, dessas que ameaçam chover o dia inteiro, porém explodem ao entardecer quando você está na rua, e sem guarda-chuva.

Encontrei uma caixa do correio em frente a minha casa, sendo que aquilo tinha grande significado, pois foi minha primeira compra pela internet. Retirei o “bichinho” do pacote, entendi como funcionava, depois hospedei ele em uma mesinha ao lado da minha cama.


Por semanas,fui experimentando as essências que comprei junto com o mesmo. Lavanda, menta, eucalipto, flor de laranja entre outras. Nenhuma delas que eu tivesse morrido de amores, mas capricorniana que sou, não existe desperdício. Até que um belo dia resolvi dar uma chance para a boa essência de cidreira.


No momento que exalei o cheiro da erva, senti um misto de emoções. Meu pensamento nostálgico, levou-me para plantação de cidreira que meu pai cultiva até hoje no jardim de casa, sempre usada no bom chimarrão gaúcho, ou como chá para curar seja lá o sintoma que você tiver.



Quando criança eu sempre quis estar presente ao lado do meu pai e da minha mãe, era a filha "carrapato" e prestativa, esperava ansiosa a chamada: “Pri vai pegar cidreira”. Eu reclamava se estivesse chovendo ou fizesse frio, mas ia do mesmo jeito. Depois de moça, comecei a fazer o chimarrão, e aí eu mesma já apanhava a cidreira, ou pedia para minha irmã ir no quintal pegar um pouco da erva enquanto esquentava a água para fazer o chima. Para leigos, o chimarrão não é apenas um chá, como por aqui os americanos gostam de rotular, o “chima” é um momento de sentar em família, contar histórias, um ritual harmônico entre aqueles que sentimos apreço, uma filosofia dos povos do Sul do Brasil.


Sou uma mera amante do passado, apaixonada pela história, de pessoas e do mundo, carrego comigo as raízes da minha terra, onde fui criada. Sempre acreditei que da vida não lembramos dias ou ponteiros do relógio, nos recordamos de momentos, quer eles bons ou maus.


A saudade daquilo que foi bom, do que é especial, para mim tem cheiro de cidreira, tem gosto de casa. A vida é bonita, mesmo aos olhos de pessimistas duvidosos,a esperança é alento, nosso alimento vital, para crer que no dia seguinte o sol vai nascer, e vamos tentar mais uma vez, mesmo que um pouco cansados. E mesmo que a filosofia de viver o presente seja verdadeira, vale-se olhar para o retrovisor do seu próprio ser, olhar para a jornada percorrida e inspirar-se com tudo aquilo que um dia já foi presente.

O passado são as raízes que fundamentaram o que somos hoje.


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Quanto ao vaporizador, me encontrei em um ambiente lúdico, onde no meu próprio quarto formava-se um Trio-Parada Dura de respeito: o chimarrão amargo, ao som de Renato Teixeira, e no ar o fascinante cheiro da cidreira. Senti o banzo!

Mesmo longe eu estava em casa.


Escrito em Julho de 2019

New York

PM



 
 
 

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